Pesquisar neste blogue

SIGA ESTE SITE:

Translate

VEJA O MEU BLOGUE PRIVADO:

SOBRE EMOÇÕES, LEIA MEU BLOGUE:

VEJA AGORA

VEJA AGORA

A alma

A ALMA não é um tema científico. Nos laboratórios da ciência ela não entra. É assunto de alguns psicólogos, filósofos e teólogos (entre outros). Muita outra gente parece disposta a dispensar a alma e oscila entre o dogma e a especulação, o cepticismo e a crença. Há quem a confunda com o "sentimento de si", o auto-consciente.

Parece, porém, que aquilo a que chamamos alma é algo que não tem nada a ver com isso pois está mais próximo do "proto-si" (de A.Damásio), na profundidade do inconsciente, inacessível a qualquer tentativa de observação. Por iso, a alma presta-se a inúmeras confuções conceptuais. Muitas vezes chamamos de alma ao "carácter" da pessoa (que é outra coisa). Outros confundem com a "mente" (que também é outra coisa). Outros com as emoções de fundo (que também não são a alma).

As primeiras informações que temos sobre suposições acerca da alma vêm dos filósofos gregos onde se destaca Platão que disse que a construção da alma é uma obra filosófica. E que a flosofia consiste em cuidar da alma.

A ciência actual - na melhor das hipóteses - considera a alma um subproduto do cérebro. É ele o seu autor! A verdade é que a alma - seja por via da filosofia, da poesia ou da simples crença - é uma realidade humana, isto é, faz parte do nosso universo mental, da nossa visão do mundo e do nosso mundo interpessoal. Ninguém sabe definir o que é a alma mas toda a gente entende o que se quer dizer com isso. Mesmo que ela não seja mais do que uma maneira de nos referirmos ao mundo interior de cada um.

Carl Jung falou sobre a alma mas foi James Hillman, em 1975, quem retomou mais recentemente o tema no livro "re-visioning psychology" onde afirma que "aquilo que designamos por alma é uma perspectiva e não uma coisa ou substância; é uma forma de ver o mundo e não um mundo em si mesmo".

Uma das características da alma segundo, por exemplo, os católicos, é a sua imortalidade. Platão assim pensava e isso marcou todo o percurso humano até hoje. A alma, segundo essa visão, não pertence ao corpo; separa-se dele quando o corpo morre (isto é uma visão dualista mas também....redutora). No Renascimento, a alma era uma espécie de substância que resistia ao tempo e à morte. Era eterna e podia reencarnar noutro corpo. Há os seus defensores e não são poucos.

Para os psicólogos transpessoais a alma está pejada de forças e imagens que reflectem o sub-pessoal e o supra-pessoal. E assim sendo, segundo o filósofo, Michael Grosso, "a alma é o teatro multifacetado onde o transpessoal (o transcendente) surge e é escutado e onde deambulam entes estranhos e vagabundos mas também velhos amigos e familiares".

E então a alma tem como essência o mundo da imaginação. Sem isso não há alma. Veja-se que muitas curas de "doenças da alma" são feitas através de xamãs e psicoterapeutas que usam a imaginação, a sugestão e a visualização criativa para chegar à alma. Aliás, ela manifesta-se - segundo outros autores - através dos sonhos (lá voltamos à questão do inconsciente). Os sonhos são, para eles - a mais pura manifestação da alma pois o Ego, que não os controla, deixa que ela se manifeste espontânea e livre de inibições.

Finalmente, também há quem, na mesma linha de pensamento, veja a alma como um auto-conhecimento experimental. Se assim for, levanta-se uma questão (filosófica?): sermos donos de nós próprios - das nossas almas - é um empreendimento "perigoso", diria, desafiante nos tempo que correm (em que a massificação faz diluir a nossa própria identidade pois somos nomeados e reconhecidos como "números", anónimos cidadãos que fazem parte de e que justificam estatísticas). A própria educação dita moderna não veícula a ideia de uma alma. Como escreveu John Keats, "podemos conter inteligencias mas não adquirimos identidade enquanto não formos, pessoalmente, nós próprios".

Citando Alfred Korzybski, autor de "Ciência e Sanidade", "não é a palavra que importa" mas o que ela traduz. Em rigor, a alma não será uma noção universal; parece-se mais com um sentimento (sim, universal), algo que se sente existir sem que se consiga, porém, ver e descrever. E, mesmo assim, existem diferentes versões do que a alma possa significar encontrando-se interpretações (e sentimentos) distintos de cultura para cultura.

Talvez por isso (e quer acreditemos ou não na existência da alma) haja uma desumanização actual da Humanidade. Deixámos de ter uma visão poética da vida. Passámos a ser conduzidos pelo pragmatismo e pelo reducionismo científico. E pela contas, pelas compras, pelos Natais consumistas.

Nelson S Lima