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MEMÓRIA & APRENDIZAGEM (entrevista)


Resumo da entrevista concedida à jornalista Cláudia Faria, da revista SÁBADO.

Cláudia Faria - A memória é um tema muito estudado pelos investigadores portugueses? 
Nelson S. Lima - A memória, porque é uma das mais importantes e indispensáveis capacidades para a vida, é um tema que tem sido abundadantemente estudado pelos neurocientistas de todo o mundo. Em Portugal, a neurociência está a dar os seus primeiros passos e muitos investigadores nacionais têm-se interessado não apenas pelo estudo da memória enquanto função central do cérebro mas também pela relação desta com as emoções, a personalidade, as doenças neurológicas, o envelhecimento, etc. 
CF- Qual é o aspecto da memória que mais usamos no dia-a-dia? 
NSL- Usamos vários tipos de memória segundo a duração do tempo de fixação (imediata, de curto prazo e longo prazo), diferentes categorias segundo a modalidade cognitiva (memória episódica, memória semântica, etc), o tipo de função (verbal, espacial, musical, etc), os estímulos envolvidos (auditiva, visual, táctil, etc) e o nível de cognição utilizado (memória implícita ou não-consciente e memória explícita ou consciente). A memória mais central é a chamada "memória de trabalho" ou "operacional" que usamos permanentemente a fim de sermos capazes de ligar os acontecimentos momento a momento e executarmos tarefas com uma percepção sólida e coerente de continuidade. 
CF - É possível criar memórias de coisas que nunca aconteceram? 
NSL - Memorizamos ideias, intenções, projectos, imagens e interpretações de acontecimentos que nunca presenciámos ou que, em si mesmo, nunca se concretizaram. Na verdade, memorizamos pensamentos que são acontecimentos mentais. 
CF - Como se consegue discernir entre uma verdadeira recordação e uma falsa memória? 
NSL - A verdadeira recordação de tipo fotográfico ou audiográfico não existe a 100%. O cérebro, pela forma como evoca as memórias previamente registadas, altera as recordações pelo que um mesmo conteúdo pode assumir diferentes aspectos. É o caso, típico, da memória de um acidente presenciado por alguém que estava no local. Essa pessoa vê, interpreta e fixa todo um conjunto de dados que podem ser ampliados, reforçados ou reinterpretados devido às opiniões de outras testemunhas com quem troque impressões. A memória também faz interacção com as emoções pelo que duas pessoas ouvidas em separado podem descrever um mesmo acontecimento usando diferentes perspectivas e abordando-o de ângulos igualmente não coincidentes. Por isso é que os juizes ouvem as declarações das testemunhas em busca da verdade que resulte da filtragem de todos elementos: factos, similariedades de relatos, contradições, ideias, etc. 
CF - Porque é que umas pessoas têm melhor memória do que outras? 
NSL - Isso depende de muitos factores (biológicos, psicológicos, ambientais, etc) que entram jogo na dinâmica da memória. Há pessoas que têm melhor memória auditiva, outras visual, e por aí adiante. Mas, em geral, a memória das pessoas funciona plenamente e sem perturbações. Mas os factores que mais prejudicam a saúde da memória são o stress, a fadiga, a alimentação incorrecta e o envelhecimento. 
CF - Quais são as melhores estratégias para recordar? Pode dará alguns exemplos práticos do dia a dia? O que é que diariamente as pessoas podem fazer para melhorar a memória? 
NSL - As melhores estratégias para recordar começam com uma que é prioritária: a atenção aplicada nas actividades ou nos dados que queremos mais tarde recordar. A pressa e a desatenção são inimigas da memória pelo que devemos adoptar algumas regras básicas como buscar várias fontes de informação (por exemplo, para estudar um tema é útil fazermos uma pesquisa em torno do mesmo e não apenas uma apressada leitura), utilizar vários sentidos e dispositivos gráficos (ver, ouvir, imaginar, desenhar, fotografar, etc), etc. A memória é multifocal e, por isso, o registo pode ser amplificado se soubermos aceder às várias modalidades de aprendizagem. Actualmente há actividades que podem ajudar a reforçar o desempenho cognitivo, nomeadamente o da memória. Por exemplo, os exercícios de neuróbica e de neurofitness podem ajudar na qualidade da memória. 
CF - O ambiente, os hábitos e a educação influenciam a memória? 
NSL - Influenciam muito. Por exemplo, os hábitos de trabalho e o sentido de organização são determinantes. O trabalho executado com um plano prévio de tarefas (por exemplo, desdobrá-lo por etapas) ajuda o cérebro a facilitar o registo das informações que lhe são dadas. Também o ser-se organizado na disposição dos elementos que queremos aprender (dar-lhes uma classificação de prioridade, objectivos, etc) reforçam a capacidade de memorização. 
CF - Qual é a importância da alimentação e do sono no que concerne à memória? 
NSL - São factores muito importantes. A alimentação saudável é regrada e equilibrada e, por isso, fornece nutrientes vitais para a função cerebral. Se assim não for, se nos alimentarmos de forma "desonesta" e adulterada expomo-nos a doenças, à rigidez cerebral e mental e ao declínio cognitivo (o excesso de radicais livres simplesmente fere de morte as células nervosas e diminuem as capacidades mentais do pensamento e do raciocínio). Também a falta de sono prejudica a memória: não apenas porque reduz a capacidade atenção como também complica todo o esforço metabólico ligado à fixação de memórias que a nível celular o cérebro necessita realizar durante as horas em que dormimos).   
CF - Qual é a melhor hora do dia para memorizar coisas? 
NSL - Depende das pessoas. Geralmente, os introvertidos parecem fixar melhor durante a manhã enquanto que as pessoas extrovertidas memorizam melhor à tarde e ao fim do dia. De facto, a natureza da personalidade parece ter uma palavra a dizer visto que ela tem como alicerces determinadas estruturas biológicas que também estão implicadas na memória e noutras actividades cognitivas. 
CF - Deve-se estudar na véspera de um exame? 
NSL - Talvez as pessoas precisem de estudar nas vésperas de um exame por diferentes razões: umas porque querem reforçar e consolidar o que já sabem, outras porque se sentem mais seguras, enfim, outras porque acreditam que assim é melhor e ficam mais tranquilas. Mas o ideal é mesmo fazer-se uma aprendizagem gradual (diz-se significativa) que dê tempo à consolidação dos conhecimentos. Estudar de véspera pode gerar ansiedade suficiente para bloquear a memória. Isso acontece com 20 a 30% dos alunos das nossas escolas 
CF - Tudo o que vivemos fica gravado em algum lugar da nossa memória?
NSL - Parece que sim. Estima-se que o cérebro de uma pessoa culta de 80 anos pode ter armazenada informação suficiente para que encher 30 milhões de livros de 500 páginas e que se distribui por diferentes categorias de memória: autobiográfica, semântica e procedimental. O que acontece é que a grande maioria da informação está indisponível quer no subconsciente quer no inconsciente das pessoas a fim de libertar a mente daquilo que seria um pesadelo se estivessem impedidas de esquecer.
CF - O que é um dejá vu?
NSL - É um sentimento de revivescência de algo passado e não de uma recordação. Resulta de coincidências de natureza subjectiva presentes num determinado momento e que captamos de forma emocional.
CF - O que é a amnésia?
NSL - Significa falha ou perda de memória. Em certos casos patológicos pode assumir formas e graus de gravidade diversas. Existem também as alterações qualitativas da memória (paramnésias) e também os chamados "transtornos do reconhecimento". São diferentes patologias e cuja repercussão na qualidade de vida varia de caso para caso.
CF - Porque é que retemos umas memórias e não outras? 
NSL - Geralmente retemos e lembramo-nos depois melhor aquelas memórias que nos marcam emocionalmente ou que foram significativamente importantes para nós. 
CF - Sem a memória não poderíamos aprender e por consequência evoluir enquanto espécie. Qual é a verdadeira importância que a memória tem para o ser humano? 
NSL - A nível individual ela permite-nos construir o nosso eu a partir da elaboração mental da nossa própria história de vida dando-nos um sentido de existência e de coerência entre as diferentes vivências quotidianas. A nível colectivo ajuda-nos a desenvolver o sentido social e de pertença que une todos os membros da comunidade e da propria espécie. 
CF - Conseguimos compreender de facto como funciona o cérebro ao nível da memória? 
NSL - Embora nem todos os fenómenos estejam totalmente descodificados o funcionamento da memória está bem compreendido hoje em dia. 
CF - Quais foram as últimas descobertas cientificas sobre a memória? 
NSL - Houve várias. Destaco principalmente as que se têm debruçado sobre a relação entre as emoções e a memória, as que estudam os processos degenerativos que podem afectar a memória devido ao abuso de drogas, álcool e tabaco, stress, ao envelhecimento, a lesões no cérebro e a doenças severas (caso da depressão, Alzheimer, etc.).

Os 3 relógios do cérebro!



O tempo é uma dimensão inseparável da vida. O nosso cérebro é actualmente influenciado pela omnipresença do relógio e do calendário. Dividimos o tempo em anos-luz, em milénios, séculos, décadas, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e por aí fora. Mas, para além desta divisão artificial e útil do tempo, o nosso cérebro está sintonizado com os ritmos biológicos.

O cérebro humano obedece a 3 relógios naturais: o primeiro determina o ritmo dos dias e é marcado pelo sono da noite e o despertar da manhã; o segundo controla processos de milésimos de segundos como as actividades psicomotoras finas; e o terceiro é aquele que nos permite ter consciência da passagem do tempo.

A Universidade de Duke, nos Estados Unidos, que se tem debruçado sobre este tema, concluiu que é numa determinada região do cérebro chamada "corpo estriado" que se localizam uns neurónios responsáveis pela perceção do tempo. Parece que estas células integram todas as ondas eléctricas emitidas por outras regiões do cérebro dando-nos consciência do tempo.

Quer ter a sensação de que o tempo flui rapidamente? Dedique-se a uma actividade agradável e envolvente. Quer sentir o tempo passar devagar? Faça meditação ou fixe o mostrador de um relógio. Relaxe e o tempo desliza vagarosamente.

NÓS E AS NOSSAS CONVICÇÕES


Segundo Javier Sampedro as pessoas que não se assustam facilmente tendem a defender o pacifismo, o controle de armas, o apoio económico ao Terceiro Mundo e uma política tolerante com a imigração. Os mais assustados, pelo contrário, apóiam o patriotismo, os gastos com defesa, a guerra no Iraque e a pena de morte. São estas as conclusões do trabalho apresentado na revista "Science" por uma equipe de cientistas políticos americanos dirigida por John Hibbing, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Nebraska em Lincoln.

Os investigadores recrutaram 46 voluntários "com fortes convicções políticas" - de ambos os lados - e pediram que dessem a sua opinião sobre imigração, ajuda externa, controle de armamentos e outras questões políticas. Dois meses depois fizeram-nos voltar ao laboratório para submetê-los a um teste muito diferente.

Os pesquisadores aplicaram em cada voluntário equipamentos de medição para analisar o suor, os movimentos oculares súbitos e outros sinais de ansiedade e lhes mostraram 33 fotografias. Todas eram inofensivas, menos três: uma aranha do tamanho de um caranguejo pousada no rosto de uma pessoa, um homem aturdido com rosto ensanguentado e uma ferida aberta infestada de vermes. Também estudaram a sua reacção a explosões repentinas.

O resultado é uma clara correlação positiva: os voluntários mais assustados - os que reagem com mais força aos ruídos e às fotos ameaçadoras - também tendem a ser os mais preocupados em proteger os interesses de seu grupo social, seja contra inimigos externos ou criminosos internos.

Além dos pontos citados no primeiro parágrafo, a correlação com o susto se estende a posições políticas favoráveis a - lembre-se de que os participantes eram americanos - "as revistas sem autorização judicial, a pena de morte, a Lei do Patriotismo, a obediência, a oração na escola e a verdade da Bíblia", segundo um dos autores, o cientista político John Alford, da Universidade de Rice em Houston, Texas.

As pessoas mais assustadiças também tendem a se opor ao pacifismo, à imigração, ao compromisso político, ao controle de armas, à ajuda externa, ao sexo pré-conjugal, ao casamento gay, ao aborto e à pornografia.

As simples correlações estatísticas não implicam por força uma relação de causa. Mas Alford acredita que esses dados "podem ajudar a explicar a pequena flexibilidade nas crenças das pessoas com fortes convicções políticas e também a omnipresença do conflito político".

As atitudes diante do público tradicionalmente foram vistas como reacções ajustadas às circunstâncias sociais e históricas. Mas algumas pesquisas recentes apontam uma "qualidade intrínseca, quase automática, de muitas reacções políticas", afirmam Hibbing e seus colegas. Há evidências de que a mesma estrutura cerebral (a amígdala, relacionada com a emoção do medo) está envolvida nas atitudes políticas.

O FUTURO DO HOMEM



50 mil anos depois do cérebro humano ter atingido as suas actuais capacidades e 4 milhões de anos após o aparecimento da primeira espécie animal com características humanóides, uma pergunta se deve agora colocar: terá o nosso cérebro aptidões para lidar com tanta informação e tantos novos conhecimentos produzidos pela actual Era Tecnológica? Qual a evolução esperada da mente humana?

Pensamento acelerado, stress, fobias, ansiedade, instabilidade e insegurança emocionais....Eis alguns dos sintomas da dificuldade de adaptação ao meio ambiente actual. Ora isto é já considerado um problema social (e político) nas sociedades mais avançadas, especialmente nas grandes metrópoles da Europa, Ásia e América.

A mente humana – com todos os atributos, potencialidades e mistérios que lhe são recon-hecidos – continua a ser um tema sedutor e aberto às mais variadas abordagens (filosóficas, biológicas, neuropsicológicas, etc.). Produto da actividade concertada de grandes aglomerações de células cerebrais altamente especializadas e de um complexo metabolismo que só agora começa a ser compreendido, a mente humana cumpre numerosas funções que se exprimem em diferentes planos.

Graças à evolução bem sucedida do sistema cérebro-mente, a história da Humanidade é um percurso empolgante de conquistas. Em não muitos milhões de anos vencemos uma série de etapas evolutivas e, chegados ao século XXI, eis-nos senhores de uma sociedade multifacetada, complexa e altamente competitiva - produto, afinal, da dinâmica interacção entre o exercício do pensamento e os desafios da vida.

As capacidades possíveis

A história da humanidade reflecte assim, desde os seus primórdios, o resultado da nossa inteligência criativa. Em poucos milénios desbravámos territórios inóspitos e levantámos civilizações. Em pouco tempo percebemos que tínhamos o poder de exercer transformações no que antes parecia imutável. A criatividade tornou-se a grande força da nossa inteligência. De simples recoletores e caçadores passámos rapidamente a inventores, técnicos e artistas. E com isso modificamos completamente a face do planeta e a história do nosso Mundo.

Agora, em plena Era do Conhecimento, o intelecto perfila-se como um capital de valor inestimável. Já ninguém duvida que a riqueza das nações, das comunidades e de todas as organizações (seja de que tipo forem) depende mais dos recursos intelectuais – inteligência, criatividade e conhecimento – do que qualquer bem tradicional, incluindo o próprio dinheiro. De facto, a força muscular e o trabalho das máquinas estão rapidamente a ser substituídos pela inteligência e o saber.

Torna-se, por conseguinte, naturalmente aceite que cuidemos do cérebro como cuidamos do resto do corpo. Esta certeza assenta em três princípios fundamentais:

- O cérebro é um órgão que tem a capacidade para se renovar a si mesmo.
- O cérebro tem capacidade ilimitada de aprendizagem e pode aumentar a sua eficiência através do exercício.
- O cérebro responde eficazmente à actividade física, ao treino mental e ao estilo de vida, podendo manter-se ágil durante toda a vida.

Um sistema dinâmico

Uma característica vital do cérebro é chamada de neuroplasticidade. Aqui reside o segredo do poder mental. A neuroplasticidade (ou plasticidade neural) refere-se à capacidade dos neurónios se transformarem e adaptarem a sua estrutura e função em resposta às exigências externas e internas do organismo.

De facto, toda a exigência que desafie ou estimule o cérebro (por exemplo, aprender um novo idioma) produz mudanças anatómicas muito significativas a nível celular como o aumento das dendrites (filamentos que se ramificam a partir do centro da célula para contactarem outros neurónios), o aumento no número de espinhas dendríticas, a formação de novas sinapses (junções especializadas existentes nos neurónios através das quais estes conectam entre si), o aumento da actividade das neuroglias (células que apoiam os neurónios) e alterações no metabolismo celular (transformações químicas que estão no centro do trabalho cerebral).

É lícito acreditar (na verdade, está cientificamente demonstrado!) que um cérebro activo e estimulado por diferentes desafios se revele mais perspicaz, mais hábil e naturalmente mais capaz de responder às solicitações do pensamento e do meio ambiente.

É preciso levar em conta essas potencialidades. Um cérebro que é estimulado pela experiência e a aprendizagem consegue operar uma actividade mental com alto rendimento. Assim, na exigente sociedade de hoje só as pessoas que invistam seriamente no seu capital cognitivo e intelectual (inteligência, criatividade e conhecimento) poderão aspirar a lugares destacados no mundo do trabalho.

Aprender mais e mais e durante toda a vida tornou-se, por conseguinte, numa exigência da Era do Conhecimento. Para tal temos de estar na melhor forma mental. A “potência cerebral óptima” pode ser atingida através de um estilo de vida sadio, uma alimentação equilibrada e uma verdadeira (e regular) ginástica cerebral.

As dúvidas

Mas....é lícito questionar: de que maneira vai a mente humana evoluir com tanta informação e tantos estímulos sensoriais à sua volta?

Repare-se: as estruturas do cérebro humano actual, responsáveis pela capacidade de gerar os padrões de energia e de informações que estão presentes nos processos e estados mentais, têm uma história de pouco mais de 50 mil anos quando a nossa espécie surgiu (a qual seria, acrescente-se, seria a última de uma série de espécies hominídeas - pelo menos 5 - que viveram na Terra nos últimos 4 milhões de anos).

Dizem-nos os neurobiólogos que a actual capacidade do cérebro permite-lhe adaptar-se a ambientes crescentemente complexos. Isso mesmo tem acontecido sobretudo nos últimos 5 mil anos e, mais ainda, nos últimos 100 anos. Mas a complexidade da sociedade tecnológica está a aumentar a um ritmo impensável até há pouco tempo atrás.

Actualmente vivemos um período de transformações profundas e de maior conectividade social. A produção de informação cresce de forma imparável, imediatista e ao mesmo tempo efémera. Uma pergunta parece-nos então óbvia: teremos capacidade para lidar com tanta informação e estímulos em simultâneo à mistura com sentimentos de incerteza e de ambiguidade?

Afinal, muitas pessoas (cada vez mais, na verdade) revelam síndromes preocupantes: pensamento acelerado, estados depressivos, ansiedade patológica, instabilidade, agressividade, inquietude e medos.

Tudo isto é um mau presságio. E há quem faça a advertência: as sociedades modernas estão em risco de uma grave ruptura psicológica e social. Os sinais estão à vista: cresce o número de pessoas com perturbações emocionais e cognitivas.

Estaremos então no limite das nossas capacidades mentais? Ou estaremos apenas impreparados para acompanhar o ritmo de transformações (sociais, tecnológicas e culturais) e a torrente de informação que todos os dias e a toda a hora nos cerca e invade?

A questão - que não é apenas do foro médico - merece que nos debrucemos urgentemente sobre ela.

Texto de Nelson S Lima

O QUE DIZ STEVE PINKER
Notável professor e director do conhecido Centro de Neurociência Cognitiva do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Professor de psicologia da Universidade de Harvard. Formado pela Universidade de MacGill e doutorado na Universidade de Harvard na disciplina "Psicologia Experimental". Defensor da psicologia evolucionista e da teoria computacional da mente.

A mente humana ainda está ainda a evoluir?
"Uma boa aposta é dizer que não. Certamente o processo de evolução não apresenta o mesmo ímpeto de cerca de 100.000 anos atrás, quando surgiram os primeiros crânios modernos. A indagação que precisamos fazer é: como a posse de uma mente mais poderosa se traduziria, no decorrer dos séculos futuros, em maiores chances de procriação para os donos desses cérebros, em maiores chances de ter filhos que herdassem essa mente "evoluída"? Para nossos antepassados, que viviam da recolha de alimento e fugindo de predadores, a vantagem era clara.

Aqueles que tinham a mente mais poderosa, que faziam as melhores ferramentas ou concebiam as melhores estratégias de caça, conseguiam sobreviver. Hoje, essa relação não é mais evidente. Tomamos conta de toda a Terra e criamos redes sociais que protegem também os mais fracos
em termos biológicos. Ninguém precisa mais matar um mamute para sobreviver. Uma evolução mental teria de levar em conta, ainda, os custos associados a um cérebro grande e uma mente complexa como a nossa.
O tecido cerebral consome um monte de energia. Além disso, cérebro grande significa cabeça volumosa, o que aumenta os riscos para o bebé e para a mãe na hora do parto.


Estaríamos próximos, assim, do limite de nosso desenvolvimento cultural e tecnológico?

Não, ainda há muito a explorar na mente humana, e é certo que nossa cultura e tecnologia evoluirão drasticamente. Só é bastante provável que tenhamos atingido o nosso limite biológico. De todo modo, nenhum de nós estará aqui para assistir a um "salto evolucional". Lembre-se: a evolução biológica é um processo que envolve muitas e muitas gerações, num período longuíssimo. Só os heróis das histórias em quadrinhos ganham superpoderes de repente". 


MATRIX: A REALIDADE É UMA ILUSÃO?


O UNIVERSO É UM COMPUTADOR?

"O tabuleiro de xadrez é o mundo; as peças são os fenômenos do Universo; as regras do jogo são o que chamamos de Leis da Natureza. O jogador no outro lado está oculto a nós".
Thomas H. Huxley.

E se tudo o que você vê for apenas uma simulação de computador? O filme Matrix provoca a idéia, com a ajuda de surpreendentes efeitos visuais – criados justamente por computadores, e que parecem incrivelmente reais. Na produção da sequência, Matrix Reloaded, o supervisor de efeitos especiais John Gaeta comentou que as imagens geradas por sua equipe são tão impressionantes que “talvez nossa tecnologia se torne a verdadeira Matrix, e nós tenhamos inadvertidamente liberado o frasco de coisa verde no planeta”. Mas o que deve intrigar mesmo é que existem propostas científicas sérias de que todo o Universo, incluindo nós mesmos, seja em essência o resultado de um grande computador.

Já em fins dos anos 60, o alemão Konrad Zuse sugeria que todo o Universo estaria tendo lugar nas entranhas lógicas de um computador. Zuse não era um maluco qualquer: ele construiu os primeiros computadores eletromecânicos programáveis do mundo, desenvolveu a primeira linguagem de computador de alto-nível, e, entre tantas outras coisas, criou o primeiro programa de xadrez em um computador.

O que não deixa de ser curioso, dada a metáfora do naturalista do século XIX Thomas Huxley que introduz este artigo. A sugestão de Zuse fazia referência ao tipo de computador em particular que estaria ‘passando’ o nosso Universo, denominado autômato celular. O conceito deste tipo de computador foi criado por outro grande pioneiro, o matemático húngaro John von Neumann, nos anos 40 – a propósito, como uma base da idéia de sistemas lógicos que fossem auto-reprodutores e que imitassem assim a própria vida.

Para entender basicamente o que são autômatos celulares, e eles são um tanto diferentes do computador a que estamos acostumados, começamos com a metáfora de xadrez de Huxley. Deite fora as peças, e fique apenas com o tabuleiro. Cada casa do tabuleiro é uma célula, e cada uma destas células pode ser branca ou preta. Agora, a cor destas células não depende mais do padrão monótono e fixo do xadrez, mas pode mudar de acordo com regras simples implementadas dentro de cada uma delas. Estas regras são executadas em todas as células simultaneamente, toda vez que um relógio bate. O tabuleiro é agora um autômato celular. Cada célula deste autômato pode, por exemplo, ter o seguinte conjunto de regras: se houver três células imediatamente vizinhas brancas, ela deve ficar ou continuar branca. Se houver duas células vizinhas brancas, sua cor não deve mudar. Se houver menos de duas ou mais de três vizinhas brancas, deve ficar ou continuar preta. E isso é tudo.

Se você leu essas regras, o que deve ter sido um tanto chato, pelo menos deve ter percebido que elas são muito simples. Mas a partir delas, executadas em cada célula de nosso autômato, uma ordem incrível de complexidade pode surgir. Isso foi demonstrado de forma bela por um programa de computador que se tornou uma febre nos anos 70: o Game of Life de John Conway.

Usando exatamente as regras descritas acima, cada célula branca estava ‘viva’, e as pretas, ‘mortas’. Numa época que hoje já parece remota, onde o tempo dos computadores era caríssimo, horas e horas foram gastas por pesquisadores fascinados observando como uma ordem inesperada surgia: quadrados piscando, triângulos andando e flechas zunindo, tudo em padrões complexos mudando, a cada batida do relógio.

E resulta que mesmo um autômato celular de regras simples como o Game of Life de Conway pode funcionar como um computador universal: isto é, representando informação como células brancas ou pretas, e dispondo diversas outras células de forma determinada, este simples jogo de computador pode em tese simular qualquer computador imaginável, dando seus resultados como um determinado padrão de células.

A capacidade de computação universal de autômatos celulares simples nos leva de volta às especulações de que o Universo seja um computador. Essa especulação fantástica deriva essencialmente de uma suposição: a de que o Universo seja discreto, em outras palavras, que seja em essência digital.

O mundo pode parecer contínuo, analógico em muitos aspectos: basta olhar para o arco-íris que parece variar suas cores continuamente. Mas apenas parece: a luz é composta de partículas discretas chamadas fótons.

No mundo do infinitamente pequeno, regido pelas leis da física quântica, o infinitamente pequeno pode simplesmente não existir: as ações se dariam em pacotes, de forma discreta, em quanta. Até mesmo o tempo e o espaço não seriam contínuos: existiria uma quantidade mínima de tempo e espaço passível de ser medida, e possivelmente, de acontecer em nosso Universo. Num Universo em que tempo e espaço ocorrem aos pulsos é justamente o universo dos autômatos celulares.

O padrão de pigmentação em conchas pode ser reproduzido por autômatos celulares com regras definidas. Para Wolfram, isto evidencia processos de computação já ocorrendo na natureza. “Nossa tese é de que algum modelo de autômato celular pode, em efeito, ser programado para funcionar como a Física [do Universo]”, diz Edward Fredkin, da Universidade de Boston. Fredkin já foi director do laboratório de ciência de computação do M.I.T., e tem sido um dos mais notáveis promotores do Universo como um computador. Sua ‘Mecânica Digital’ explicaria mesmo os mais incompreensíveis aspectos da mecânica quântica.

Contudo, o mais novo e ardoroso defensor desta abordagem é Stephen Wolfram, criador de um dos mais usados softwares de computação técnica do mundo. Wolfram ficou milionário, e dedicou os últimos anos a uma busca obstinada – e em grande parte obscura – para demonstrar que autômatos celulares podem responder por toda a complexidade que enxergamos no mundo.No ano passado, Wolfram finalmente lançou o livro A New Kind of Science (Um Novo Tipo de Ciência), um tomo volumoso replecto de gravuras, complementado por programas de computador de demonstração. Tornou-se brevemente um best-seller, um feito notável considerando as mais de 1.000 páginas e o tema hermético, mas não agradou muito à comunidade científica. Wolfram é acusado de não reconhecer plenamente o trabalho de outros cientistas nas teorias e idéias que expõe, de não apresentar idéias realmente novas, além de tentar levar todas elas longe demais sem a base necessária.

Não é novo, e não é ciência”, escreveu o crítico David Drysdale. O livro de Wolfram e, é claro, o filme Matrix, divulgam cada vez mais a idéia de que o Universo seja um computador. Por trás dessa divulgação ampla, os seus criadores, de Zuse a Fredkin, ofereceram uma hipótese séria e tantalizante. Talvez, perguntar ‘o que é Matrix?’ seja no final das contas a mesma pergunta fundamental feita pela ciência: o que é o Universo?

Edward Fredkin está procurando pelo carro no estacionamento, quando seu filho diz: “Eu sei exatamente onde o carro está!”. Surpreso, ele pergunta “onde?”. Ao que ouve “O carro está no Universo”. Caso o Universo seja um computador funcionando em algum lugar, nós podemos estar igualmente certos de que onde quer seja, não é neste Universo: como Fredkin chama, o lugar onde nosso Universo estaria é o Outro. Podemos saber pouco sobre o Outro. Uma vez que contém algo que é responsável por nosso Universo, e como nosso Universo pode criar computadores universais, então o Outro é certamente capaz de produzir computadores universais. Além disso, se as leis físicas que conhecemos são resultado de regras em um autômato celular, podem existir muitas outras regras, muitos outros universos. E todos eles podem estar contidos no Outro, que por sua vez pode ter leis físicas imponderáveis a nós. Estudar nosso Universo não diz muito mais do que isso sobre o Outro.

Entretanto, não resistimos imaginar por que ele estaria ‘passando’ o nosso Universo. Num de seus melhores contos, o escritor de ficção científica Isaac Asimov escreveu sobre “A Última Pergunta”: como evitar o destino de nosso Universo em expansão, a morte térmica. O ano é 2061, e como não poderia deixar de ser, a pergunta é feita a um computador. Depois de um breve silêncio, o computador informa: “Dados insuficientes para uma resposta”. E ao longo de centenas bilhões de anos, a humanidade se expande pelo Universo e se funde com seus computadores – sempre para descobrir que a última pergunta ainda não pode ser respondida. Ao fim, quando todo o Universo é englobado pelo Computador, quando o caos já reina, ele finalmente chega a uma resposta. Mas já não há ninguém para conhecê-la excepto ele mesmo. A resposta deve ser dada então por demonstração, e a entropia do Universo será revertida. E o Computador diz: “Que se faça a luz!”. E houve luz.

Ficção à parte, se nosso Universo é apenas um dentre muitos que podem ocorrer no Outro, talvez não exista um Criador, ou melhor, um Programador. Como nota Jürgen Schmidhuber, do Instituto Dalle Molle de Estudos em Inteligência Artificial na Suíça, em nosso Universo-computador uma xícara de chá não só seria resultado de cálculos, como estaria efetuando cálculos para existir. O que ela computa? Provavelmente nada muito interessante, mas se ela é um computador efetuando um cálculo qualquer, nosso próprio Universo poderia estar tendo lugar no Outro como algo tão desinteressante quanto uma xícara de chá é para nós.
Aos que ficarem desanimados com a idéia, podemos voltar à ficção científica. Em ‘O Mochileiro das Galáxias’, Douglas Adams conta que fomos criados para computar a resposta da Grande Questão da Vida, do Universo e Tudo. A resposta? 42.

Leia:
- Life32 - versão freeware para Windows(r) do Game of Life
- Cellular Automata - Uma excelente introdução a autômatos celulares
- The World According to Wolfram - Resenha do livro de Wolfram

Apesar do que possa parecer, este não é um plágio do artigo 'Matrix: A realidade é uma ilusão?' de Rafael Kenski, publicado em maio de 2003 na revista SuperInteressante. Todo este artigo foi escrito no começo de abril de 2003 para um outro projecto, mas teve que ser descartado justamente por causa da (realmente embasbacante) semelhança com o artigo publicado em Maio na revista SI. Não sei se implantes alienígenas em meu cérebro transmitiram este artigo para a mente de Kenski, provavelmente um alienígena reptiliano disfarçado entre nós.

Fonte: Kentaro Mori. Com adaptações.

CONTROLO DA MENTE


O controlo da mente é um assunto delicado, pois levanta questões éticas e morais. Todavia, o controlo da mente também pode realizar-se em contextos social e moralmente aceitáveis. O controlo da mente - sobre os outros - se faz facilmente pois o ser humano tem pouco desenvolvida sua capacidade de defesa face aos instrumentos e às mensagens de controlo que lhe são aplicados.

O ser humano é, neste domínio, ingénuo e crédulo. Seus recursos defensivos não estão musculados e, por isso, é facilmente manipulável mesmo sem o sentir, isto, sem disso ter consciência.

No nível básico, o exercício do controlo da mente, se faz quando tentamos convencer os outros da validade da nossa argumentação e procuramos estabelecer crenças em suas mentes. É o que se faz, por exemplo, na escola tradicional em que as crianças aprendem as instruções ditadas pelos professores. Ninguém discute a "sabedoria" e as "certezas" dos professores. Esta atitude torna as crianças altamente vulneráveis aos "ensinamentos" da autoridade que a criança sente no professor.

Desde esse momento seu cérebro fica preparado para futuras manipulações. E porquê? Porque a escola não desenvolve o senso crítico nem permite a contestação, a dúvida ou negação. Professor manda. Professor sabe. Professor é autoridade. E os pais confirmam.

Nos níveis superiores chegamos à propaganda: a comercial e a eleitoral. Aqui, muitos esforços têm sido feitos para que as mensagens sejam credíveis e aceites como verdades indiscutíveis. Formam-se crenças. Veja-se o poder que certas marcas têm sobre os jovens ao ponto de estarmos certos de que muitos consumidores não compram os produtos mas as marcas que lhe dão nome. Os exemplos, nas últimas décadas, têm sido muitos e variados: Coca-Cola, Adidas, Nike, etc.

Ingenuamente, milhões de consumidores "confundem" as marcas com os produtos de tal forma que através de "testes cegos" (em que os voluntários ignoram as marcas) eles perdem o sentido de escolha. Os erros que cometem revelam como a "marca" influi suas preferências. Isto é aceite pacificamente mas a verdade deve ser dita: é manipulação da mente. Consumidor informado e dotado de sentido crítico e racional não reage por impulso nem emotivamente ao ponto de ser controlado. Infelizmente isso é difícil porque nosso cérebro é honesto.

Na espionagem e na política de alto nível, as técnicas de controlo da mente para impor ideias, crenças, ideologias e outros vírus mentais são mais refinadas.

Nelson S Lima

O CASO DO MOSTEIRO DE PETERBOROUGH

Em 1993 já se sabia que o pensamento e as emoções afetam a saúde. Foi nesse ano que o médico Deepak Chopra lançou o livro "Corpo Sem Idade, Mente sem Fronteiras", o primeiro que li daquele autor e um dos que mais me agradou.

É um livro sobre saúde e envelhecimento  onde o autor, hoje bastante famoso e considerado uma das personalidades do século XX (segundo a revista "Time"), sugere um conjunto de atitudes, hábitos e estilos de vida favoráveis a uma otimização das nossas capacidades, fazendo também uma abordagem muito inteligente ao processo biológico e mental do envelhecimento.

Ele cita um dos seus pacientes que disse "As pessoas não envelhecem. Quando param de crescer é que ficam velhas". 

Segundo Chopra nós temos a idade da "informação" que gira através do nosso corpo, e isso tem a ver com novas aprendizagens, manter-se atualizado e um modo positivo de encarar o mundo e a vida.


Deixem-me que lhes conte uma experiência que teve lugar alguns anos antes e que confirmam esta visão. Em 1979, a psicóloga Ellen Langer fez uma experiência que poderia ter mudado o mundo. Pegou em vários homens de 70 e 80 anos para passarem uma semana num mosteiro de Peterborough, no estado de New Hampshire (Estados Unidos) e deu-lhes uma série de tarefas COMO SE eles estivessem a VIVER nos anos 50. Ou seja, o cenário e as atividades recriavam o ambiente de meados do século XX.

Entre outras coisas, eles viram gravações de programas de televisão e ouviram música daquela época e tiveram até um debate sobre um jogo de futebol americano de 1959. Ou seja, suas memórias dos anos 50 foram puxadas para o futuro (no caso, o final da década de 70, data da experiência). Foi um verdadeiro exercício de recriação!

Quando terminou a semana (e voltaram mentalmente ao dia-a-dia de 1979) a cientista reavaliou todos os voluntários de idades já vetustas. E descobriu resultados fascinantes. Confirmou que os homens mostravam sinais de rejuvenescimento, melhoraram nos testes de visão e audição e revelaram mais facilidade em se movimentarem, nomeadamente graças a uma declarada melhoria nas articulações. Mais: 63% obtiveram melhores resultados num teste de inteligência!

Na época, esta experiência não teve repercussões a não ser na então pequena comunidade científica interessada no envelhecimento. Passou ao lado das grandes notícias e não interessou a mais ninguém.

Felizmente, o mundo mudou e, hoje, experiências como aquela, apenas confirmam que o envelhecimento ativo e criativo fornece mais saúde e longevidade.

Nelson S. Lima

INTUIÇÃO: UM RECURSO EXTRAORDINÁRIO

A intuição é um tema que tem sido objecto de muitas reflexões. Normalmente, as pessoas entendem a intuição como um "sexto sentido", uma forma singular de percepção e também de conhecimento.

Geralmente é definida como um conhecimento que surge espontaneamente, sem a intervenção consciente do raciocínio e da reflexão.

Na filosofia chinesa a intuição quer dizer "conhecimento directo" e que resulta de uma visão interior realizada não através dos olhos mas da contemplação.

Alguns especialistas atribuem a intuição a processos de pensamento muito rápidos. De acordo com esta teoria, várias pequenas insinuações podem ser rapidamente integradas, tornando possível conclusões sem qualquer acto intermediário aparente.

O pensamento pós-modernista da Nova Era entende que “enterrado no fundo de cada um de nós, existe uma consciência instintiva que nos proporciona o mais confiável guia para sabermos se nossas acções estão voltadas para o interesse comum da vida que existe no nosso planeta. Precisamos usar mais o bom senso que emana dos nossos corações”.

Actualmente, as ciências cognitivas revelam que o pensamento ocorre no segundo plano de nossas mentes. Estudos sobre processamento automático, memória implícita, funcionamento do cérebro direito, emoções instantâneas, comunicação não verbal e criatividade revelam a capacidade intuitiva.

O pensamento, a memória e o comportamento operam em dois níveis: o consciente/intencional e o inconsciente/automático. É uma forma de processamento duplo e simultâneo.

Segundo a psicoterapeuta Maria Clara Heise, "isso vem nos mostrar que temos dois tipos de mente: uma para a percepção imediata e outra para todo o resto!".

E acrescenta: "Quando nossos ancestrais encontravam um estranho na floresta tinham que decidir instantaneamente se era um amigo ou inimigo. Aqueles que faziam uma leitura rápida e acurada tinham mais chance de sobreviver e deixar descendentes, o que explica o porquê das pessoas hoje serem capazes de distinguir só com um olhar as expressões de raiva, tristeza, medo, prazer, etc. É graças a essa sensibilidade que nos conduz dos olhos para os centros de controle emocional do cérebro que reagimos de forma emocional, antes de termos tempo de fazer uma interpretação racional do que está acontecendo. Ou seja, primeiro sentimos, depois o cérebro interpreta".

Assim, uma explicação alternativa apresentada por Ellen Campbell e J.H.Brennan é a de que "a intuição é o resultado de uma capacidade especial, ou de uma afinidade para com o objecto considerado - algo quase semelhante a um dom psíquico" (*)

Habitualmente diz-se que as mulheres têm uma melhor intuição do que os homens. Alguns testes de personalidade mostram que os homens chegam a um score de 60% para a medida de “objectividade” (as decisões são tomadas baseadas na lógica) e as mulheres têm 90% para “sensibilidade” (as decisões são subjetivas, baseadas no que estão sentindo). Sem dúvida que a intuição faz parte do processo de tomada de decisão. "Mas parte dessa verdade é que também acontecem muitos erros" - diz a psicoterapeuta.

Seja como for, a intuição é mais poderosa do que imaginamos. Alimenta a nossa criatividade, o intelecto, a percepção do amor e ainda a espiritualidade.

A ciência nota que a intuição funciona para algumas áreas, mas requer restrições noutras e, por conseguinte, pode ser perigoso deixarmo-nos levar somente pela intuição, desprezando o bom senso e a lógica. "Por outro lado, com certeza seremos mais espertos, sensíveis e criativos se dermos ouvidos aos murmúrios que surgem da nossa mente obscura"- conclui a psicoterapeuta Maria Clara Heise.

Nelson S. Lima

(*) Campbell, E. & Brennan, J.H., "Dicionário da Mente, do Corpo e do Espírito", Editora Mandarim, S.Paulo, 1997).

BASES DA PSICOLOGIA INTEGRAL


O conceito da Psicologia Integral deve-se a Ken Wilber. A sua obra concentra-se basicamente na integração de todas as áreas do conhecimento (ciência, filosofia, arte, ética e espiritualidade).

A preocupação em unir ciência e religião apoia-se em sua própria experiência e na de diversos místicos de todas as grandes tradições de sabedoria, tanto ocidentais quanto orientais; aliado à sua releitura transpessoal da psicologia analítica de Carl Gustav Jung.

Em 1998, Wilber fundou o Instituto Integral (Integral Institute), organização que reúne os inúmeros pensamentos nas questões sobre a ciência e a sociedade de maneira integral. Ele tem sido pioneiro no desenvolvimento da Psicologia Integral, da Política Integral - e, mais recentemente, de uma nova Espiritualidade Integral.

No dia 4 de Janeiro de 1997, o jornal alemão Die Welt declarou Wilber como "o maior pensador no campo da evolução da consciência". Segundo muitos formadores de opinião em filosofia, psicologia e espiritualidade, Ken Wilber seria o maior filósofo da actualidade, envolvido no desenvolvimento das estruturas e idéias que, quando reconhecidos e aplicados, tendem a ampliar a futura visão de mundo, ciência e religião em um novo paradigma "integral".

Desde recentemente, Wilber dedica-se à prospecção de uma "Teoria de Tudo", um metamodelo do conhecimento já produzido que possa unificar e estruturar a visão do que chama de Kosmos: físico, vida, mente, alma e espírito.

No livro "Consciência Cósmica" (Kosmic Consciousness), Wilber começou o que ele se intitula: contador de histórias e criador de mapas. As suas histórias falam sobre questões universais e seus mapas integram várias perspectivas do cosmos.

Em "Uma Teoria de Tudo" (A Theory of Everything), texto introdutório ao paradigma integral, Wilber sintetiza suas teorias e ferramentas, e propõe uma visão integral - e unificável - para os negócios, a política, a ciência e a espiritualidade.

Em "Espiritualidade Integral", Wilber expande sua visão Integral para formular uma nova teoria para a espiritualidade, propondo um papel inovador para a religião, transcendência e a sua aplicação no quotidiano.

Bibliografia em português:
O Paradigma Holográfico e Outros Paradoxos (Cultrix, 1991)
O Espectro da Consciência (Cultrix, 1996
)
Consciência Sem Fronteiras (Cultrix, 1989)
Um Deus Social (Cultrix, 1987
)
Transformações da Consciência (Cultrix, 1999)

O Projeto Atman: Uma Visão Transpessoal do Desenvolvimento Humano (Cultrix, 2000
)
O Olho do Espírito (Cultrix, 2001
)
A União da Alma e dos Sentidos (Cultrix, 2001
)
Uma Breve História do Universo (Nova Era, 2001
)
Uma Breve História de Tudo (Via Óptima, 2002
)
Psicologia Integral: Consciência, Espírito, Psicologia, Terapia (Cultrix, 2002
)
Uma Teoria de Tudo (Cultrix, 2003
)
Boomerite: Um Romance que Tornará Você Livre (Madras, 2005
)
Uma Teoria de Tudo (Oficina do Livro, 2005
)
Ken Wilber em Diálogo (Madras, 2006
)
Espiritualidade Integral (Aleph, 2007
)

Fases de Ken Wilber
O próprio filósofo define a sua obra em 5 fases:

Na Fase 1, (-1979), se identifica com a psicologia junguiana e a filosofia romântica, vendo o crescimento espiritual como um retorno ao Self.

Na Fase 2, de 1980 a 1982, adentra a psicologia do desenvolvimento, aprofunda seus estudos da consciência, agregando filosofias ocidentais e orientais. Nesta fase, o crescimento espiritual é fruto do processo de amadurecimento.

Na Fase 3, de 1983 a 1987, compreende o amadurecimento como um processo complexo, onde é necessário um equilíbrio do Self entre o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e espiritual; dentre outros. De 1987 a 1995, praticamente não publica, devido a questões pessoais - em especial a grave doença de sua esposa, falecida em 1989.

Na Fase 4, de 1995 a 2001, sua teoria ganha dimensões socioculturais, através da teoria dos quadrantes (eu, isto, nós, istos; intencional, neurológico, cultural e socioeconômico), a aplicação dos mesmos a todo o conhecimento humano, sua interdependência, e o "fundamentalismo" de visões (filosofia, ciências, espiritualidade, psicologia, etc) baseadas em apenas um destes aspectos.

Na Fase 5, "pós-metafísica" (2001-), Wilber parte para uma visão mais integral de sua teoria. A questão transcendente permanece, mas há uma compreensão de todos os níveis da Espiral Dinâmica, inclusive os "mundanos"; em lugar de sua abordagem metafísica (evolução/involução) anterior. Seu próprio modelo passa a ter uma abrangência que se estende a todos os quadrantes, tipos, níveis, linhas e estados previamente definidos em sua prospecção do conhecimento humano.

Conceitos
No modelo de Ken Wilber, a consciência organiza-se em esferas evolutivas que sucessivamente incluem e transcendem a camada anterior. A vida inclui e transcende a organização física e molecular onde ocorre; a mente, por sua vez, inclui e transcende a vida; a alma inclui e transcende a mente; e o espírito, a alma.

A: Matéria / Física - A
B: Vida / Biologia - A+B
C: Mente / Psicologia - A+B+C
D: Alma (sutil) / Teologia - A+B+C+D
E: Espírito (causal) / Misticismo - A+B+C+D+E

Esta idéia que qualquer "todo" conhecido é apenas um "holon" (parte de um "todo maior", conceito holístico emprestado de Arthur Koestler), e aplica-se também átomos, moléculas e organismos; letras, palavras, frases, páginas, livros e idéias; e à própria consciência humana, um holon que se manifesta em quatro quadrantes: eu, isto, nós, "istos" (isto coletivo).

Por este modelo, a negação das camadas vistas como "inferiores" (comum a vários sistemas filosóficos e religiosos), seria um equívoco; assim como o descarte, por parte de alguns campos da ciência, de toda esfera que transcenda os limites de sua visão.

A visão científica em geral considera um "cosmos" da realidade física como "todo", e não um holon. Isso implica a visão de que apenas a física e causalidade seriam as ciências perfeitas e reais. Wilber propõe a retomada do conceito grego de "Kosmos", que inclui não só a matéria, mas também a vida, a mente, a alma e o espírito. Assim, uma visão materialista encontraria explicações para o domínio de seu "olho do físico", criando teorias para o cosmos. Já uma visão de Kosmos implicaria o desenvolvimento de um "Olho do Espírito", uma vez que causas oriundas de um holon transcendente pareceriam inexplicáveis - ou factos acausais, na visão de Carl G. Jung - se considerado apenas a esfera anterior.

Wilber também expande o conceito da Dinâmica da Espiral de Clare W. Graves, um modelo dos estágios do desenvolvimento humano, aplicável a vários campos, de acordo com uma visão do mundo mais ou menos individual, familiar, coletiva ou holismoholística.

Segundo o filósofo, a maioria das visões espirituais e psicológicas incorrem numa visão dualista (racional ou espiritual, ciência ou religião, ego ou essência do ser). Para Wilber, contudo, há um modelo de três camadas (pré-pessoal, pessoal e transpessoal; mítico, religioso ou místico; corpo, ego ou Ser; instinto, intelecto ou intuição; natureza, cultura ou Kosmos), e há um falácia ao incluirmos as experiências pré-pessoais na coluna "espiritual" do modelo anterior. Assim, sua análise discerne, no dito espiritual, aquilo que é "transpessoal" e evolutivo daquilo que seria "pré-pessoal".

Wilber propõe dez níveis e quatro quadrantes que, se combinados, geram a abordagem "todos os níveis, todos os quadrantes" de sua Filosofia Integral.

SUPERIOR ESQUERDO: Interior-Individual, Eu. Psicologia do Desenvolvimento.
SUPERIOR DIREITO: Exterior-Individual, Isto. Neurologia, Ciência Cognitiva.
INFERIOR ESQUERDO: Interior-Coletivo, Nós. Psicologia cultural, antropologia.
INFERIOR DIREITO: Exterior-Coletivo, Istos. Sociologia.

Cada um destes quadrantes apresenta 10 estágios ou níveis, sub-divididos em pré-pessoais, pessoais ou transpessoais:

TRANSPESSOAL: Causal, Subtil e Psíquico
PESSOAL: Centáurico/Visão Lógica, Formal (formop) e Operacional Concreto (conop)
PRÉ-PESSOAL: Rep-ment, Fantásmico-emocional, Sensório-físico e Indiferenciado ou matriz primária.

Nelson S Lima 

(fonte Ken Wilber)

PSICOSSOMÁTICA: A MENTE NO CORPO





Não é nada de novo mas a medicina tem dado muito pouca importância ao tema mesmo depois de se ter criado o termo "psicossomática" para descrever as alterações orgânicas e as enfermidades que são provocadas, afectadas ou estimuladas pela psique, os comportamentos e os estilos de vida.

Ao contrário do que geralmente está convencionado, a mente não está alojada na cabeça. Ela resulta da actividade do sistema nervoso mas seus efeitos distribuem-se por todo o organismo a cada instante.

Já todos percebemos como uma emoção forte acelera o coração ou como ficamos "gelados" com uma notícia aterradora. Mas, subtilmente, mesmo o estado do nosso humor e do nosso ânimo, afectam todo o corpo, ainda que disso não tenhamos consciência.

Quantas indisposições "físicas", quantas doenças e perturbações não têm origem no nosso mundo psíquico, por vezes nas memórias emocionais, sem que disso tenhamos consciência?

Infelizmente, os médicos, de uma maneira geral, tratam os problemas psicossomáticos com alguma indiferença, até mesmo com algum desprezo. E, não obstante, o tema é científico e não esotérico. Faria muito bem a muitos médicos perceberem um pouco mais da psicologia humana e tratarem dos doentes mais do que das doenças propriamente ditas.

O assunto é sério, ultrapassa o entendimento de alguns curiosos e aventureiros que debutam no campo das medicinas alternativas e seus anexos, exige especialização e, por isso, aqui fica o meu alerta.

Tenha em conta que todas as enfermidades têm algum tipo de ligação íntima com a psique e o estado de espírito; variam de aspecto, frequência, predisposição e gravidade em função da personalidade (a pessoa no seu todo) e dos padrões de comportamento e, finalmente, devem ser objetivamente estudadas e acompanhadas por quem sabe.

A influência da mente (das disposições, dos pensamentos, das emoções, etc) sobre o corpo (incluindo o próprio cérebro) é muito grande (estima-se que 80% das doenças actualmente conhecidas são "alimentadas", quando não provocadas, pelos estados de espírito).

Mais do que o tão badalado "pensamento positivo" (uma já estafada crença nem sempre fácil de cumprir) necessitamos é de melhorar o nosso auto-conhecimento, o nosso equilíbrio emocional e sentimental, a nossa auto-estima e a nossa capacidade de tomarmos decisões e assumir escolhas.

Com isso iremos melhorar o nosso sistema imunitário, isto é, as defesas que o corpo gera de forma natural. Ficaremos então menos vezes doentes e a cura será mais rápida. E, assim, a longevidade pode então ser uma conquista da inteligência mais do que dos genes, dos factores ambientais e da sorte. Porque ser inteligente é saber fazer opções. Mesmo na saúde.

Nelson S Lima